17 de fev. de 2010

TURMALINA PARAIBA

O azul mais lindo do mundo
FONTE: REVISTA VEJA

É elétrica, é vibrante, brilha no escuro.
Nada se compara à cor da turmalina Paraíba.
Problema: aqui, as minas já secaram

Juliana Linhares
Fotos divulgação
EXÓTICA E RARA
No centro do broche Camélia Paraíba, da Chanel, a deslumbrante turmalina que atualmente só é encontrada na África, em pouca quantidade
A jóia na foto acima é uma peça única: um broche em formato de camélia estilizada no qual o ouro branco, os mais de 1 000 diamantes e o esmalte se contorcem sinuosamente em torno da atração principal. A pedra que parece hipnotizar quem a contempla é uma turmalina Paraíba de 37,5 quilates. Olhe de novo, porque você dificilmente verá coisa igual – o broche, batizado de Camélia Paraíba e executado pelos joalheiros da Chanel em homenagem à flor-símbolo da célebre grife, já sumiu do mercado, comprado assim que foi colocado à venda. Não estranhe se nunca tiver ouvido falar no nome da pedra de um azul que oscila entre o turquesa e o piscina, tão intenso e elétrico que é chamado de neon. Uma especialista como a diretora artística da divisão de joalheria da Dior, Victoire de Castellane, só começou a usar há pouco mais de um ano a gema extraída de apenas cinco minas no mundo, sendo três delas no Brasil, a mais importante no estado que lhe dá nome. "Ela se encantou com o exotismo da pedra", diz Rosangela Lyra, diretora-geral da Dior no Brasil. Cultora de um estilo altamente rebuscado, Victoire foi uma das primeiras a produzir jóias que misturam a turmalina azul com outras pedras preciosas coloridas. Agora, acaba de lançar uma linha que reproduz plantas carnívoras, com quatro peças contendo a turmalina Paraíba: anel, colar e um par de intrincados brincos nos quais rebrilham as pedrinhas azuis. Os preços das jóias, que não são vendidas no Brasil, vão de 55 000 a 250 000 reais. Por causa da cor e da raridade, a turmalina Paraíba é uma das pedras mais caras do mundo: 1 quilate (0,2 grama) custa em média 30 000 dólares, mas pode chegar a 100 000, dependendo das características da gema.
Poucas joalherias brasileiras produzem peças com ela. "Além da dificuldade em comprar as gemas, devido à sua baixa produção, o preço final das jóias é alto demais para o consumidor brasileiro", diz Daniel Sauer, diretor da Amsterdam Sauer. "Não temos mais do que dez peças com essa pedra." Na H.Stern, um colar com uma única e resplandecente Paraíba custa 3,07 milhões de reais. "Quem procura a turmalina é alguém que já tem todas as outras pedras importantes, como diamantes e rubis", explica Christian Hallot, relações-públicas da joalheria. A turmalina Paraíba tem esse nome porque foi encontrada pela primeira vez no distrito de São José da Batalha, no interior pobre e escaldante da Paraíba. O Brasil é rico em turmalinas, mas a variedade de um azul único surgiu da obstinação típica dos caçadores de pedras. Informado da ocorrência de gemas no subsolo paraibano, no começo dos anos 80 o mineiro Heitor Dimas Barbosa decidiu garimpar na região. Com licença do governo federal, escavou durante sete anos. Em 1989, achou um punhado de turmalinas, estranhou a cor e mandou para análise no maior laboratório de gemas do mundo, o Gemological Institute of America (GIA). A resposta chegou em poucos dias: eram pedras únicas no planeta. O GIA ficou tão impressionado que publicou uma reportagem de nove páginas em sua revista, e assim a turmalina Paraíba se tornou conhecida no meio dos aficionados, por profissão ou paixão, das pedras preciosas. O preço do grama na ocasião pulou de 60 para 20 000 dólares. "Dez pistoleiros tentaram matar meu pai para tomar as terras", conta Sérgio Barbosa, filho de Heitor, hoje com 75 anos. Depois de muita briga, os Barbosa dividiram a mina da Batalha em três pedaços e exploram um deles. O auge da produção das turmalinas na mina da Batalha se deu entre 1990 e 1992. Desde então, a incidência de gemas caiu progressivamente e há dez anos a mina não produz uma pedra sequer. "Continuamos escavando. Temos esperança de encontrar outros bolsões", diz Sérgio.
Fotos divulgação e Rodrigo Lopes
CANSOU DOS DIAMANTES? APROVEITE
Brincos da Dior, com sua colorida mistura de pedras preciosas, e o colar "importante" da H.Stern: um jeito de variar, para quem já tem tudo – mesmo
Enquanto a mina da Batalha entrava em declínio, as turmalinas foram achadas em três outros locais: duas minas no Rio Grande do Norte, uma em Moçambique e outra na Nigéria. Criou-se, então, o tipo de discussão que faz ferver o sangue dos especialistas: poderiam ser chamadas de turmalina Paraíba? Alguns gemólogos acham que não – as pedras da Batalha têm um azul incomparavelmente intenso. Sob o ponto de vista dos elementos que as compõem, no entanto, brasileiras e africanas são iguais. "Todas elas têm a mesma composição química, cujos principais elementos são o manganês e o cobre – este, o responsável pelo tom azul", explica a gemóloga Jane Gama, do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. "A diferença só existe por uma questão comercial. Como a pedra da Batalha foi a primeira a ser encontrada, o mercado dá mais valor a ela", diz Odúlio Moura, gerente de uma das minas do Rio Grande do Norte. Estas, aliás, também estão secas: uma foi desativada em maio e a outra não produz praticamente nada há dois anos. Nos últimos tempos, todas as turmalinas Paraíba colocadas à venda em estado bruto vieram da África, e mesmo assim em produção limitada. Mais abundantes, as pedras que pendem para o verde são menos valorizadas. Ter uma turmalina Paraíba, seja ela brasileira, seja ela africana, continua a ser um privilégio. A quem não tem, resta encantar-se com as imagens reproduzidas. Ou ficar azul de inveja.
FONTE: VEJA

4 de fev. de 2010

PEDRAS SEMIPRECIOSAS?

A revanche das cores
Fonte: Revista Veja

Que semipreciosas que nada: hoje supervaliosas, as pedras brasileiras arrebatam fãs mundo afora.
Começou com um desses acasos: entre a I e a II Guerra Mundial, com as relações internacionais em tumulto, não era fácil fazer transitar pelos grandes centros mundiais diamantes, rubis, safiras e esmeraldas. Abriu-se então uma brecha para a invasão de outro tipo de gema colorida – os topázios, turmalinas, águas-marinhas e ametistas (entre dezenas de outros) colhidos, na maioria, dos garimpos brasileiros.
Consta que os joalheiros europeus teriam batizado essas pedras de "semipreciosas" para depreciar seu valor e manter esse mercado milionário sob rédeas. Mas foi-se o tempo em que a nomenclatura servia para tal riqueza. Hoje as gemas brasileiras não só adornam dezenas das estrelas que desfilam pelos tapetes vermelhos de Hollywood, como uma delas lidera o ranking das mais valiosas: a turmalina Paraíba, só encontrada no estado que lhe dá o nome e que pode chegar a custar até 90 000 dólares o quilate. "A palavra preciosa é um adjetivo como grávida ou honesta. Não dá para acrescentar um "semi" antes dela. Ninguém é meio honesto, nenhuma mulher fica meio grávida e nenhuma pedra é semipreciosa", diz Christian Hallot, embaixador no Brasil da H.Stern, a joalheria que, décadas atrás, começou a popularizar essas belezas no além-mar. Em sintonia com esse raciocínio, o governo francês derrubou o velho "semi" por decreto: desde 2002, ele proíbe o uso do termo para qualquer tipo de pedra.
Com o "semi" em desuso, as gemas coloridas passaram a ser conhecidas como "pedras brasileiras": sob o solo do Brasil podem ser encontradas 90% das variedades que enfeitam brincos, anéis, colares, pulseiras e relógios. Ou seja, apenas uma em cada dez das variedades empregadas na joalheria inexiste nos estratos rochosos nacionais (até hoje não se localizaram aqui safiras ou rubis de qualidade). O Brasil é pródigo também em quantidade, fornecendo 30% de todas as gemas usadas no mundo. "As nossas pedras são de qualidade inquestionável. Uma parcela considerável das melhores jamais vistas vem daqui", garante Hallot. Para determinar o valor de uma pedra, devem-se auferir sua beleza, sua raridade e a confiabilidade de sua origem. Outros quatro critérios ainda são decisivos: a cor, a transparência, o peso e a qualidade da lapidação.
As jóias hoje feitas com essas pedras chamam atenção também pelo design. Despertam a cobiça feminina as peças com a assinatura do carioca Antonio Bernardo, do libanês radicado em São Paulo Jack Vartanian e da brasiliense Carla Amorim (aliás, a favorita de Ruth Cardoso em seus tempos de primeira-dama). "Aqui há muita água-marinha que vale mais do que boas safiras", diz Vartanian, filho de lapidadores que há quase uma década causou sensação ao empregar o quartzo rosa, pouco explorado à época. Autor de peças longilíneas e inusitadas com grandes áreas de ouro amarelo ou branco, Bernardo também se diz fã da pedraria nacional. "Elas servem sobretudo para acrescentar cor e criar um novo assunto nas minhas jóias." E haja assunto. Quinze anos atrás, quando Carla Amorim começou, era comum os fregueses pedirem que ela substituísse as gemas brasileiras por ouro ou brilhante nas jóias que criava. "Hoje cravejo minhas peças de pedras coloridas e o sucesso é imediato."
A mais cara do mundo
Encontrada apenas no estado brasileiro que lhe dá nome, a turmalina Paraíba pode atingir o preço de 90 000 dólares por quilate. Só para comparar: 1 quilate de um diamante de perfeição irretocável em geral custa menos da metade


VERDE INTENSO
A gargantilha Nature, de turmalinas verdes
e diamantes, da H.Stern: criação de uma das primeiras joalherias a incorporar as pedras brasileiras

CHUVA DE BRILHO
O Quadrantes, releitura de Carla Amorim para os antigos "chuveiros" da vovó: todo de ouro, cravejado de topázios imperiais


RELUZ E É OURO
O modelo Reflexão, de Antonio Bernardo: brincadeira com os tons próximos do ouro
e do citrino

CORES TRANSLUCIDEZ
Da coleção de Antonio Bernardo, os brincos Bálsamo usam a moldura delicada de ouro para ressaltar o quartzo verde


AZUL SEM FIM
Para agradar às clássicas: harmonia entre ouro branco, brilhantes e uma respeitável água-marinha, de Jack Vartanian

BELEZA CRISTALINA
De ouro branco e quartzo incolor, os brincos Equilíbrio, de Antonio Bernardo: o metal ressalta a gema, e vice-versa


PRETO TOTAL
Anel de ágata preta de Jack Vartanian:
opção moderna para combinar com o
pretinho básico

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA
Assinados pela estilista Diane von Furstenberg, os brincos Harmony, da H.Stern, combinam rubi, turmalinas cor-de-rosa, berilos, citrinos, quartzos rosa e diamantes


LILÁS VIBRANTE
O anel Sunrise, de ouro e ametista: lapidação cuidadosa e o pequeno diamante cravejado na lateral da peça são marcas registradas da H.Stern

ESCULTURA EM ROSA
Brincos de ametista rosa, de Carla Amorim: desenho escultural para valorizar o brilho intenso da pedra

Fonte: revista Veja